14 de agosto de 2017

Deus perdoaria meu suicidio?

Você escreveu dizendo que viu vídeos de pastores afirmando que uma pessoa que tira a própria vida poderia obter o perdão de Deus, e quis saber se é correta essa afirmação. A sua mensagem não foi a única que recebi nos últimos dias e no mesmo sentido, mostrando que esses vídeos de pastores têm sido amplamente compartilhados e divulgados, algo que realmente deve ser motivo de preocupação.

A imprensa tem uma regra não escrita, que é a de não noticiar suicídios. A menos que seja a morte de uma celebridade, é provável que você nunca irá ver a notícia do suicídio de um cidadão comum, pois sabe-se que notícias de suicídio encorajam mais suicídios. Pelo mesmo motivo a imprensa norte-americana evita noticiar tentativas frustadas de atentados nas escolas. Essas tentativas não são noticiadas por causa do "Efeito Copycat", que é a inspiração que os crimes violentos dão a determinadas pessoas encorajando-as a copiarem os mesmos crimes. 

Antes que me pergunte, sim, a imprensa tem grande parcela de culpa com seus jornais e programas sensacionalistas, que descrevem em detalhes os crimes cruéis e acabam inspirando pessoas impressionáveis ou com algum desvio de personalidade a copiarem as mesmas coisas. Por isso temo que toda essa atenção dada ao assunto ultimamente possa causar mais mal do que bem, principalmente quando tratada pela religião e imprensa dentro do contexto do "politicamente correto". Um clérigo temeroso de sua reputação ficar comprometida pode muito bem vir a público, não para falar a verdade, mas simplesmente para reafirmar aquilo que as pessoas esperam que seja a verdade.

Hoje as artes, cultura e religião amenizam a gravidade das consequências do suicídio, romantizando sua prática como mera opção do que chamam de morrer com dignidade. Afinal, quando você não tem a Deus na equação vai acabar achando que sua vida pertence unicamente a você, e ninguém melhor que você para decidir o que fazer com ela.

Se na sociedade moderna isso já é feito com certa tranquilidade no aborto, com o assassinato do pequeno ser humano apelidado de "gravidez indesejada", que mal poderia haver em matar pela eutanásia o amigo ou parente inutilizado pela doença, acidente ou velhice? E, usando do mesmo raciocínio, por que o ser humano não poderia colocar um ponto final à sua história, por meio do suicídio, considerando sua própria "vida indesejada"? Depois de assistir a séries e filmes abordando o assunto, alguém que nunca pensou em homicídios rebatizados como aborto, eutanásia ou suicídio, pode incluir a possibilidade em sua agenda.

Quando o tema envolve questões de fé o assunto fica ainda mais complicado, pois nessa hora não faltam pastores e padres buscando na mídia seus quinze minutos de fama para dizer que não veem problema algum em um cristão tirar a própria vida. Afinal, Deus é misericordioso para perdoar qualquer ato de seus filhos. Mas será que não há problema? Um suicídio é um homicídio premeditado, o que até na lei dos homens é considerado um agravante.

Alguns podem argumentar tipo "a vida é minha e faço o que bem entender com ela", mas não é assim. A vida pertence a Deus e querer tirar a vida é como querer vender um carro alugado. Ele não lhe pertence e seria um crime não devolvê-lo à locadora. E se estivermos falando de cristãos, pessoas que foram resgatadas por um altíssimo preço, como alguém poderia tratar levianamente um tema de tamanha gravidade? Veja se você consegue encontrar o seu nome neste versículo, como agente ou coadjuvante no processo de dar ou tirar a vida: "O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela." (1 Sm 2:6). Não conseguiu? Então o assunto "vida" claramente não lhe diz respeito quando a questão for dá-la ou tirá-la.

O cristão deve buscar sempre fazer a vontade de Deus e quando não souber como agir deve orar pedindo de Deus a direção. É o que ensina Tiago 4:13-17, onde você encontra a passagem que indica que, ao invés de você seguir com próprios planos sem consultar a Deus, "devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo". Será que tirar a própria vida poderia ser a resposta de Deus à sua oração para colocar um fim aos seus problemas aqui?

Na Bíblia temos vários casos de crentes em desespero, que chegavam a pedir a morte, mas nenhum tomando essa iniciativa pelas próprias mãos. Jó foi um, que diante do incentivo da mulher, que dizia "Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre", respondeu: "Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios." (Jó 2:7-10).

Em Gênesis 9:6 Deus determinou a aplicação de pena de morte para o homicida, tamanha a gravidade desse pecado: "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem.". No caso de um cristão que planeja atentar contra a própria vida ele estará também atentando contra o próprio corpo, que é o Templo do Espírito de Deus. Qualquer que incentivar algo assim argumentando com sua própria sabedoria é insano e nada entende.

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos." (1 Co 3:16-20).

Antes de terminar quero deixar claro que meu ponto foi dizer que o suicídio é um ato egoísta de homicídio premeditado, e temos clara a afirmação da Palavra de Deus em 1 João 3:15: "Vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele". Mas existe uma gama enorme de situações, como a de Sansão, que provocou a própria morte mas com o objetivo de salvar seu povo dos inimigos, ou de Jesus, que entregou sua vida para nos salvar. Um soldado na guerra que salta sobre uma granada para, com seu corpo, salvar seus colegas, não é considerado suicida, mas herói. Seu motivo não foi o egoísmo, mas o altruísmo.

Porém existem situações nas quais só Deus consegue entrar, como por exemplo a da pessoa que pula do prédio querendo se matar, mas se arrepende antes de atingir o chão, ou daquele para quem o veneno não mata imediatamente e Deus consegue invadir a solidão de um coma para tocar seu coração. Por isso costumo dizer a pais que perderam um filho para o suicídio que não se apressem a tirar conclusões, principalmente quando variáveis como doenças mentais, drogas e dores crônicas podem fazer parte de uma equação que leva a pessoa a agir de modo inconsciente, como em um surto psicótico.

Mas para alguém que no pleno domínio de suas faculdades mentais esteja flertando com esse ato tão abominável aos olhos de Deus a mensagem continua sendo: "E vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele." (1 Jo 3:15).



Por Mario Persona

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