30 de dezembro de 2012

Parte 5. A Igreja Como Administrado por Paulo - Ef 3.



Vimos a Igreja segundo os conselhos de Deus na primeira porção da epístola aos
Efésios 1; 2:1-10. Vimos também a Igreja nos caminhos de Deus na terra em Efésios 2: 11-
22. Chegando agora ao terceiro capítulo, temos a apresentação da Igreja com relação à
administração de Paulo. O capítulo inteiro é um parêntese. Efésios 2 apresenta a doutrina da
Igreja; Efésios 4, as exortações práticas baseadas na doutrina. Entre a doutrina e as
exortações temos esta digressão importante na qual o Espírito Santo apresenta a
administração especial, ou serviço, confiado a Paulo com relação à verdade da Igreja.

Em conexão com este serviço aprendemos que foi a insistência na verdade sobre a
Igreja que levou o apóstolo para dentro das paredes de uma prisão. Esta grande verdade
acordou o ódio especial e a hostilidade dos judeus ainda mais porque não apenas via os
judeus e os gentios na mesma posição perante Deus – mortos em transgressões e pecados –
mas porque recusava completamente exaltar os judeus a um lugar da bênção acima dos
gentios.

Somos então informados por que meios o apóstolo adquiriu o seu conhecimento da
verdade do mistério. Não foi por comunicações de homens, mas por uma revelação direta
de Deus: “Por revelação Ele fez conhecido a mim o mistério”. Isso encontra uma grande
dificuldade que surge com relação à verdade do mistério. Quando Paulo pregou o
Evangelho nas sinagogas judaicas, ele invariavelmente apelou para as Escrituras (ver At 13:
27, 29, 32, 35, 47; At 17: 2), e os judeus de Bereá são expressamente louvados já que
procuraram nas Escrituras para ver se a palavra pregada por Paulo estava de acordo com
ela. Mas quando o apóstolo ministrava a verdade da Igreja, ele não podia apelar mais para o
Velho Testamento para a confirmação. Seria inútil aos seus ouvintes procurar as Escrituras
para ver se essas coisas eram assim. A descrença dos judeus tornou difícil para eles
aceitarem muitas verdades que estavam em suas Escrituras, mesmo Nicodemos falhou em
ter um vislumbre da verdade do novo nascimento. Mas aceitar algo que não estava ali, algo,
também, que deixa de lado todo o sistema judaico que estava ali, e que tinha existido com o
consentimento de Deus por séculos, era, para os judeus como tais, uma dificuldade
insuperável.

Muitos cristãos dificilmente podem apreciar esta dificuldade já que a verdade da
Igreja está basicamente obscurecida em suas mentes, ou até totalmente perdida. Vendo a
Igreja como a agregação de todos os crentes em todos os tempos, eles não têm nenhuma
dificuldade em encontrar o que acreditam ser a Igreja no Velho Testamento. Porque esse foi
o pensamento dos homens piedosos que é amplamente comprovado pelos títulos que deram
a muitos capítulos do Velho Testamento (exemplo Salmos 45). Aceite, contudo, a verdade
da Igreja, como revelada na epístola aos Efésios, e então enfrentaremos essa dificuldade
que só pode ser encontrada pelo fato de que a verdade da Igreja é uma revelação
inteiramente nova.

Essa grande verdade que Paulo tinha recebido por revelação ele descreve como “o
mistério” e novamente no verso 4 como “o mistério de Cristo”. Ao utilizar o termo
mistério, Paulo não deseja transmitir o pensamento de algo misterioso – uma utilização
puramente humana da palavra. Na Escritura um mistério é algo que foi antes guardado em
secreto, que não poderia ser de outra maneira conhecido a não ser pela revelação, e, quando
revelado, só pode ser compreendido pela fé. O apóstolo passa a explicar que este mistério
não foi feito conhecido aos filhos dos homens durante os dias do Velho Testamento mas
agora é feito conhecido pela revelação aos “santos apóstolos e profetas pelo Espírito”. Os
profetas ditos aqui claramente não são os profetas do Velho Testamento, nem mesmo em
Efésios 2: 20. Em ambos os casos a ordem é “apóstolos e profetas”, não “profetas e
apóstolos”, como seria de se esperar a referência ali não é aos profetas do Velho
Testamento. Além disso, o apóstolo está falando do que é revelado “agora”, em contraste
com o que foi outrora revelado.

Qual então é este mistério? Evidentemente não é o Evangelho o qual não estava
escondido em outras eras. O Velho Testamento é cheio de alusões à graça de Deus e ao
Salvador que viria, embora essas revelações fossem muito pouco entendidas. Nos é
claramente dito no verso 6 que esta nova revelação é que os gentios “são co-herdeiros, e de
um mesmo corpo, e participantes da [Sua] promessa em Cristo Jesus pelo evangelho”. Os
gentios são feitos co-herdeiros com os judeus, não do reino terrestre de Cristo, mas daquela
herança muito maior descrita em Efésios 1 que inclui tanto as coisas no céu como as coisas
na terra. E mais, os crentes gentios são colocados com crentes judeus em um só corpo do
qual Cristo é o Cabeça no céu. Além disso, eles juntamente participam da promessa de
Deus em Cristo Jesus. Os gentios não são levantados ao nível dos judeus na terra, nem os
judeus são rebaixados ao nível dos gentios. Ambos são tirados da sua velha posição e
levantados a um plano imensamente mais alto, unidos uns aos outros em uma base
inteiramente nova e celestial em Cristo. E tudo isso acontece através do Evangelho que
trata com ambos em um nível comum tanto de culpa como de ruína completa. Os três
grandes fatos mencionados neste verso são revelados em Efésios 1. A promessa em Cristo
inclui todas as bênçãos reveladas nos sete primeiros versos daquele capítulo; a herança é
aberta diante de nós nos versos 3-21, e o “um corpo” nos versos 22 e 23.

O mistério pode ser assim resumidamente colocado no âmbito de um verso único,
mas capturar a grandeza da verdade e tudo o que está envolvido nisso, exige o mais
profundo exercício espiritual. Alguém disse: “É maravilhoso (assombroso) como os
cristãos lentos devem entender a grandeza dos conselhos de Deus.... Em geral somos
obrigados a estar muito mais ocupados com os detalhes da vida cristã do que com os
grandes princípios desta vida”. Na contemplação do mistério somos levados de volta à
fundação do mundo para encontrar a sua fonte no coração do Pai. Ali tudo foi deliberado
segundo a Sua bondade. Ali, também, em Deus, este grande mistério permaneceu
escondido por todas as eras do tempo, até que, nos caminhos de Deus, o momento fosse
oportuno para a sua revelação. Antes que aquele momento fosse alcançado, os grandes
eventos deviam acontecer: o mundo devia ser testado e comprovado ser um mundo
completamente arruinado; Cristo devia ser manifestado na carne e a Sua obra de redenção
realizada; Ele devia ser ressuscitado dos mortos e sentado na glória; por fim, o Espírito
Santo devia vir a terra.

A presença de Cristo na terra foi o teste final e maior do homem. Vivendo entre
homens, cheio de graça e verdade, Ele “andou fazendo o bem”. Em cada ajuda manifestou
um poder que podia libertar o homem de todo mal possível – seja do pecado, da doença, da
morte, ou do diabo. Além disso, com um coração cheio de compaixão, manifestou uma
graça que usou o Seu poder em favor de homens pecadores. Como resultado, toda esta
manifestação da bondade divina só trazia à luz o ódio absoluto do homem pela bondade
perfeita de Deus. Foi a demonstração final da completa ruína do homem fosse judeu ou
gentio. Os judeus, rejeitando completamente o Messias prometido há muito tempo, selaram
a sua sorte ao dizerem: “Não temos nenhum Rei além de César”. Isto foi apostasia. Os
gentios comprovaram a sua ruína completa usando o governo que Deus tinha posto em suas
mãos para condenar o Filho de Deus depois de tê-Lo considerado judicialmente inocente. A
cruz foi a resposta do homem ao amor de Deus – a prova final de que o homem é não
apenas um pecador, mas um pecador arruinado, distante de qualquer esperança de
recuperação por si mesmo. O que acontece? O Cristo que o mundo rejeitou ascende para a
glória, e o mundo vai para baixo do julgamento. A luz do mundo é anunciada, e o mundo é
deixado na escuridão. O Príncipe da vida é morto, e o mundo é deixado na morte. A morte
e a escuridão cobrem toda a cena, judeu e gentio tanto um como o outro, mortos para Deus
em transgressões e pecados.

Não há, então, mais esperança para um mundo arruinado? O mundo deve caminhar
para o julgamento com o seu vasto carregamento de almas arruinadas? O homem foi
vencido pelo pecado e pela morte? O diabo frustrou os objetivos de Deus, envolvendo o
homem na ruína sem esperança e triunfou sobre todos? Tanto quanto concerne ao homem
há apenas uma resposta. Tudo está irreparavelmente arruinado. A cruz prova que este não é
um mundo que está morrendo, mas um mundo morto: “Julgando nós assim, que se um
morreu para todos, então todos morreram”. Mas nesta crise suprema, quando o fim do
mundo é alcançado e a sua história terrível do pecado está encerrada na morte, então Deus
volta para os Seus conselhos eternos, atua segundo O seu beneplácito, e no devido tempo
revela os segredos do Seu coração. Se o mundo está morto, Deus está vivo, e o Deus vivo
atua segundo os Seus conselhos. O mundo tinha colocado o Cristo de Deus sobre uma cruz
de vergonha: Deus ressuscita Cristo dentre os mortos e O senta sobre um trono de glória;
no tempo devido, no grande dia de Pentecostes, o Espírito de Deus vem ao mundo desde
Cristo glorificado. Maravilhoso de fato foi aquele momento quando a terra estava sem
forma e vazia e as trevas estavam sobre a face do abismo e o Espírito de Deus se movia
sobre a face das águas, mas muito mais maravilhoso foi o dia quando o Espírito de Deus
entrou em um mundo que tinha se arruinado por expulsar a luz do mundo e matar o
Príncipe da vida. Não podemos dizer que mais uma vez “as trevas estavam sobre a face do
abismo”, e mais uma vez “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”? Deus
começa uma nova obra de criação baseada, não no homem que morre, mas em “Cristo o
Filho de Deus vivo” – o princípio da criação de Deus.

Do meio de um mundo de judeus apóstatas e gentios ímpios, Deus chama para fora
uma grande companhia de almas vivificadas, remidas pelo sangue, e perdoadas segundo as
riquezas da Sua graça; e não só as chama para fora de um mundo arruinado mas as une em
um corpo com seu cabeça Cristo no céu. Elas não são do mundo no qual Cristo foi
rejeitado, assim como Ele não é do mundo (Jo 17:16), mas pertencem ao céu onde Cristo
está assentado, o seu cabeça ressuscitado e exaltado. Além disso, irão se associar a Cristo
em Sua herança gloriosa quando Ele dominará sobre todo o universo criado de Deus, sejam
elas as coisas no céu ou na terra.

Tal então é este grande mistério, em outras eras não tornado conhecido aos filhos
de homens, mas agora revelado aos Seus santos apóstolos e profetas pelo Espírito, e
ministrado a nós pelo apóstolo Paulo. Pois desta grande verdade, como o apóstolo nos diz,
ele foi feito um ministro (verso 7). Não é que não fosse revelado a outros apóstolos – Paulo
nos diz que foi – mas para ele foi confiado o serviço especial de ministrar esta verdade aos
santos. Por isso somente nas epístolas de Paul encontramos alguma revelação do mistério.
A graça de Deus tinha dado este ministério ao apóstolo, e o poder de Deus o capacitou a
usar o dom da graça. Os dons de Deus somente podem ser usados no poder de Deus.

Além disso o apóstolo nos fala do efeito que esta grande verdade teve sobre ele
(verso 8). Na presença da grandeza da graça de Deus, ele vê que é o principal dos
pecadores (1Tm 1:15); na presença da imensa perspectiva da benção revelada pelo mistério,
ele sente que é menos do que o menor dos santos. Quanto maior as glórias abertas à nossa
visão, menores nos tornamos aos nossos próprios olhos. O homem que teve a maior
apreensão desse grande mistério em toda a sua vasta extensão, foi o homem que reconhece
ser o menor que todos os santos.

Para cumprir o seu ministério, o apóstolo pregou entre os gentios as riquezas
insondáveis de Cristo (verso 8). Paulo não só proclamou a ruína irremediável do homem,
mas as riquezas insondáveis de Cristo, riquezas além de todo o cômputo humano, trazendo
bênçãos que não têm nenhum limite. Pudéssemos nós procurar o fim das Suas riquezas, não
alcançaríamos o limite das bênçãos que essas riquezas conferem.

A pregação do evangelho, contudo, tinha em vista a segunda parte do serviço de
Paulo – esclarecer tudo com o conhecimento da “dispensação [administração] do mistério”
(verso 9). Não simplesmente esclarecer tudo com a verdade do mistério, mas com o
conhecimento de como ele é administrado; mostrar a todos os homens como o conselho de
Deus de eternidade a eternidade é realizado a tempo pela formação da assembléia na terra, e
assim trazer à luz em público aquilo que estava até aqui escondido em Deus desde o
começo do mundo.

Mas ainda mais, não apenas que Deus esclareceria todos os homens quanto à
formação da assembléia na terra, mas que é Sua intenção que agora todos os seres celestiais devem aprender na Igreja a multiforme sabedoria de Deus. Estes seres celestiais tinham visto a criação recém-vir das mãos de Deus, e, quando olharam para a Sua sabedoria na criação, cantaram de alegria. Agora na formação da Igreja eles vêem “a multiforme [toda as várias] sabedoria de Deus” (verso 10) . A criação foi a demonstração da mais perfeita
sabedoria criacional, mas na formação da Igreja, a sabedoria de Deus é demonstrada em
todas as forma. Antes que a Igreja pudesse ser formada, a glória de Deus tinha que ser
demonstrada, a necessidade do homem tinha que ser satisfeita, o pecado tinha que ser posto
de lado, a morte abolida, e o poder de Satanás anulado. A barreira deve ser removida entre
judeu e gentio, o céu aberto, o Cristo assentado como um Homem na glória, o Espírito
Santo vindo a terra e o Evangelho pregado. Tudo isso e mais está implicado na formação da
Igreja, e esses variados fins só podem ser alcançados pela exposição de todas as várias
sabedorias de Deus, não só em uma direção, mas em toda direção. Assim a Igreja na terra
se torna o livro de lição dos seres celestiais e angélicos. Nem o fracasso da Igreja em suas
responsabilidades alterou o fato de que na Igreja os anjos aprendem esta lição. Ao
contrário, só faz mais manifesta a maravilhosa sabedoria que, ressurgindo de todo o
fracasso do homem, vencendo cada obstáculo, finalmente conduz a Igreja a glória “segundo
o propósito eterno que Ele propôs em Cristo Jesus o nosso Senhor”.

Nos versos seguintes (12 e 13) o apóstolo se desvia da revelação do mistério para
dar uma breve palavra quanto ao seu efeito prático. Essas maravilhas não são desenroladas
diante da nossa visão simplesmente para serem admiradas, como de fato são admiráveis,
pois como disse Davi da casa de Deus, ela é “magnífica em excelência”. Mas é igualmente
verdadeiro que o mistério é excessivamente prático, e nesses dois versos vemos o efeito do
mistério quando corretamente compreendido e praticado. Ele é uma verdade que nos fará
estar em casa no mundo de Deus, mas nos porá para fora do mundo do homem. Como o
homem cego de João 9, quando expulso pelo mundo religioso, se encontra na presença do
Filho de Deus, assim Paulo tem acesso ao palácio no céu (verso 12), mas se encontra em
uma prisão na terra (verso 13). Cristo Jesus, Aquele por quem todos esses propósitos
eternos serão cumpridos, é Aquele por quem temos acesso pela fé ao Pai. Se em Cristo
seremos colocados perante Deus santos, sem culpa, em amor, então em Cristo temos santa
ousadia mesmo agora e acesso ao Pai com a confiança. Esta grande verdade nos faz estar
em casa na presença do Pai. Mas no mundo isso nos levará à tribulação. Isso Paulo
encontrou, mas ele diz: “Não desfaleçais em minhas tribulações”. Aceitar a verdade do
mistério – andar na luz dele – nos porá ao mesmo tempo fora do curso deste mundo e, antes
de tudo, fora do mundo religioso. Atuemos sobre esta verdade e ao mesmo tempo
encontraremos a oposição do mundo religioso. Será conosco como foi com Paulo, uma luta
contínua, e especialmente com tudo o que é judaizante.

E deve ser assim, já que essas grandes verdades minam inteiramente a constituição
mundana de todo sistema religioso feito por homem. É a verdade do mistério, com o
conhecimento que Paulo procurou trazer à luz a todos os homens, proclamado nos púlpitos
da cristandade, nas convenções dos santos, ou até mesmo nas plataformas evangélicas? É a
verdade do mistério envolvendo a ruína total do homem, a rejeição completa de Cristo pelo
mundo, a reunião de Cristo na glória, e a presença do Espírito Santo na terra, a separação
do crente do mundo, e a chamada dos santos ao céu – esta grande verdade é proclamada ou
tem efeito sobre as igrejas nacionais e as denominações religiosas da cristandade? Não, ela
não tem lugar em seus credos, em suas orações, ou em seus ensinamentos. Muito pior, é
negada pela sua própria constituição, seu ensino, e sua prática.

Mas se isto é assim, temos um recurso. Podemos orar, e por isso esses dois versos
(12 e 13) conduzem quase que naturalmente à oração do apóstolo com a qual fecha o
capítulo. Se tivermos a ousadia e o acesso com a confiança, então podemos orar. Se formos
afrontados com tribulações, então devemos orar. Assim que em presença do serviço
especial dado a Paulo para ministrar a verdade, e a tribulação que este serviço o envolveu,
ele tem um só recurso, dobrar os seus joelhos diante do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

A oração no primeiro capítulo de Efésios foi dirigida ao “Deus do nosso Senhor
Jesus Cristo”. Ali Cristo é visto como um Homem em relação a Deus, e de Cristo colocado
cima de tudo, olhamos para baixo para a herança espalhada em toda a sua vasta extensão da glória. Aqui a oração é dirigida ao “Pai do nosso Senhor Jesus Cristo”, e Cristo é visto
como o Filho em relação ao Pai, e em vez de olhar para baixo para a herança, levantamos
os olhos para as Pessoas divinas.

O pedido na primeira oração consiste em que possamos conhecer a esperança do
Seu chamamento, a glória da Sua herança, e a sobre-excelente grandeza do Seu poder. Mas
esta oração se eleva para além do chamamento, se estende para além da herança, e conduz
àquilo que é maior do que o poder. Pois aqui o apóstolo ora, não só para que possamos
conhecer a esperança do chamamento, mas para que Cristo – Aquele em quem somos
chamados – possa viver em nosso coração; não só para que possamos conhecer as riquezas
da Sua herança, mas pra que possamos conhecer a plenitude de Deus; não só para que
possamos conhecer o Seu sobre-excelente poder, mas que possamos conhecer o amor de
Cristo que excede todo o entendimento.

Para que esses pedidos possam ser concedidos, o apóstolo ora para que possa
haver uma obra especial do Espírito Sagrado no homem interior. Na primeira oração o
poder é em nossa direção; aqui o poder opera em nós. Ali ele era a iluminação dos olhos
para ver a herança; aqui é uma obra no coração para compreender o amor. Para entrar nas
coisas profundas de Deus devemos ser arraigados e fundados em amor. Ser arraigado e
fundado no conhecimento das escolas não será de nenhum proveito na aprendizagem dos
mistérios de Deus. Aqui tocamos uma região além da capacidade do homem. Estamos em
contato com coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem entraram no coração
do homem, coisas que somente Deus pode ensinar através de nossos relacionamentos.
Assim quando Cristo vive no coração pela fé, e estamos arraigados e fundados em amor,
então seremos capazes de compreender com todos os santos qual é a largura e o
comprimento, e a profundidade, e a altura. O apóstolo não diz exatamente a que esses
termos se referem, mas não tem ele em vista os conselhos infinitos de Deus, há muito
tempo escondido, mas agora finalmente revelados no mistério? Isto que é possível
compreender, mas há aquilo que ultrapassa o conhecimento – o amor de Cristo. Este pode
ser perfeitamente desfrutado, mas nunca alcançaremos o seu fim ou sondaremos as suas
profundidades.

Aqui somos lançados em um mar sem porto cujas profundidades nenhuma linha
sondou alguma vez. No conhecimento deste amor seremos cheios de toda a plenitude de
Deus. “A plenitude de Deus” é aquela com a qual Deus está cheio. Cristo é a plenitude de
Deus, como lemos: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9) . A
Igreja é a plenitude de Cristo – “a plenitude Daquele que enche a todos” (Ef 1:23). Apenas
Deus pode conduzir o nosso coração ao conhecimento do amor de Cristo e assim nos
encher da Sua plenitude. Pois Ele é capaz de fazer muito mais abundantemente acima
daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que opera em nós. Não é fazendo
coisas para nós, conquanto verdadeiro isso possa ser, mas aqui o poder está operando uma
obra em nós. O apóstolo não está falando das nossas circunstâncias e necessidades diárias e
tudo o que a Sua misericórdia pode fazer por nós; ele está falando daquele universo vasto
de bênção na qual Ele pode conduzir a nossa alma por uma obra em nós. Nem o apóstolo
diz: “acima daquilo que podemos pedir ou pensar”, como o verso é algumas vezes
erradamente citado. Alguém disse: ‘Há uma grande diferença entre o que pedimos e
pensamos, e o que podemos pedir e pensar. Não há nenhum limite para o que podemos
pedir”. Nem podemos limitar o que o Deus pode fazer nos santos para a sua bênção e a Sua
glória.

Isso conduz o apóstolo a se aproximar com um irromper de louvor: “A Ele seja a
glória na Igreja em Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém”. Foi o
grande privilégio de Paulo administrar (dispensar) o mistério no tempo, mas, diz Paulo, que
seja para a glória de Deus por toda a eternidade. Deliberado na eternidade antes da
fundação do mundo, ele existirá para a glória de Deus por toda a eternidade, quando o
mundo não será mais.
  

Por HAMILTO SMITH.

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