26 de dezembro de 2012

Parte 2. A Igreja na Existência Real - At 1-9



Na investigação dos pensamentos de Deus sobre a Igreja, como revelado em Sua
Palavra, encontraremos que os primeiros capítulos de Atos nos conduzem a um estágio à
diante de Mateus 16. Lá a Igreja é profeticamente anunciada. Aqui ela é formada e vista na
existência real. Mas ela não é ainda o assunto do ensinamento do Espírito; por isso o
momento ainda não tinha chegado, nem foi o homem ainda chamado para que fosse o vaso
escolhido para revelar o mistério de Cristo e a Igreja.

A morte de Cristo é a base de toda a bênção para os homens, seja para os santos
dos dias do Velho Testamento, ou para aqueles que compõem a Igreja, ou para a Israel
restaurada na era por vir. Mas a formação da Igreja esperou dois outros eventos de imensa
importância. Cristo ressuscitado deve ascender como um Homem na glória, e o Espírito
Santo – a Pessoa Divina – deve vir à terra. O Homem na glória e o Espírito Santo habitando
na terra são os dois grandes fatos distintos do período cristão. Eles não tiveram nenhuma
existência nas eras passadas, e não serão marcantes nas eras que devem vir; eles dão todo o caráter ao presente momento.

No primeiro capítulo de Atos vemos o cumprimento do primeiro grande evento.
Aqui os discípulos recebem as últimas instruções do Senhor ressurreto, e “enquanto
olhavam, Ele foi elevado às alturas, e uma nuvem O recebeu ocultando-O aos seus olhos”.
Cristo como um Homem foi recebido em cima na glória. Certamente, ao dizer assim nunca
devemos nos esquecer de que Ele é uma Pessoa Divina “sobre tudo, o abençoade Deus para
sempre”. Mas ainda é como Homem que Ele subiu ao Céu, e como o Filho do Homem foi
visto no céu pelo mártir, Tiago.

No segundo capítulo de Atos temos o cumprimento do segundo grande evento. O
Espírito Santo foi recebido na terra segundo aquela palavra em João 7:39, que conecta a
Sua vinda com a glória de Cristo. Os discípulos estavam “todos reunidos em um lugar”
esperando, segundo a palavra do Senhor, pelo batismo do Espírito Santo. Enquanto eles
esperavam, o Espírito Santo veio “do céu” e encheu toda a casa onde estavam, e não apenas
isso, mas cada indivíduo foi cheio do Espírito Santo. Assim em um Espírito foram “todos
batizados em um corpo” (1 Co 12:13). Aqui, então, “um corpo” se tornou um fato real:
aquele corpo do qual Cristo é o Cabeça no Céu, e os crentes, os membros na terra. O fato
ainda não era revelado, e dificilmente poderia ser, já que o corpo é composto de crentes
judeus e gentios e por isso a revelação da verdade não foi dada até que os crentes gentios
tivessem sido batizados no corpo pelo Espírito Santo. (Ver Atos 10;11: 16).

Em seguida do batismo no Espírito, um grande número de judeus e prosélitos foi
convencido, acreditaram em Cristo, foram batizados, receberam o perdão dos pecados e o
dom do Espírito Santo. Além disso, lemos, “no mesmo dia foram acrescentadas
aproximadamente três mil almas” (verso 41). Então o último verso do capítulo nos diz
quem os acrescentou e a que foram acrescentados. Foi o Próprio Senhor que os acrescentou,
e foi à Igreja que foram acrescentados. Pela primeira vez nos é permitido ver o Senhor
formando a Sua Igreja segundo o Seu próprio anúncio profético em Mateus 16. “Eu
edificarei a Minha Igreja”. As palavras finais do verso, “aqueles que se haviam de salvar”,
não sugerem que eles eram incrédulos ou que eram acrescentados para serem salvos. A
nação, tendo rejeitado Cristo, continuava sob julgamento, mas aqueles que creram e foram
batizados foram salvos daquele juízo, e assim o Senhor acrescentava à Igreja. Eles foram
acrescentados ao Senhor antes que fossem acrescentados à Igreja. Insistir nisso é de grande
importância, porque o catolicismo, e aqueles que seguem o catolicismo, ligam a salvação ao
ser da Igreja, em vez de fazer da Igreja a assembléia daqueles que são salvos. Somente
crentes no começo do capítulo foram constituídos em Igreja pelo batismo do Espírito
Sagrado, e somente crentes no final do capítulo foram acrescentados à Igreja pelo Senhor.

Aqui, então, a Igreja é vista na existência real. “Todo os que criam estavam
juntos” (verso 44). Assim vemos o cumprimento daquela palavra dita por Caiafás acerca de
Cristo quando disse: “Ele reunirá em um os filhos de Deus que estão dispersos”. É
verdadeiro o que foi dito: ‘Houve de fato filhos de Deus antes daquele tempo, mas estavam
espalhados, estavam isolados. Cristo pela Sua morte os reuniu, não meramente para salválos, para que pudessem estar juntos no céu (já que eram os filhos de Deus, que já os fez), mas que Ele deveria reuni-los em um’. Isto era algo inteiramente novo sobre a terra. Não
era algo novo para os filhos de Deus sobreviverem na terra. Não era algo novo o viajarem
para o céu. Era verdade no dia de Enoque, e no dia de Jó, e por todos os dias antigos,
contudo era vagamente conhecido. Mas que os filhos de Deus deveriam ser reunidos em um
era uma coisa inteiramente nova. E esta é a verdade que o povo de Deus ainda é tão lento
em compreender. Pensamos em nós como santos isolados, como se vivêssemos antes da
cruz. Ao sermos salvos, temos a tendência de pensar que é deixado para nós, segundo o
melhor de nossa capacidade, escolher a que “igreja” nos juntaremos ou se no juntaremos a
alguma. Mas neste pensamento não conseguimos ver que, se tivermos vindo ao Senhor, Ele
já nos acrescentou à Igreja, e assim não pode haver nenhuma razão para permanecer no
isolamento por um lado, ou de se juntar a uma igreja por outro. O próprio pensamento de se
juntar a “uma” igreja denuncia a ignorância da verdade sobre “a” Igreja.

Além disso, os santos não apenas foram juntados em um, mas por estarem juntos,
Deus faz ampla provisão para que possam continuar juntos em uma unidade visível.

Em primeiro lugar, temos os ensinamentos dos apóstolos, pelo qual os santos
foram conduzidos a toda a verdade de Deus e instruídos na mente de Deus quanto ao
caminho deles na terra. Esta instrução, dada oralmente no início, foi mais tarde assegurada
aos santos para sempre nas inspiradas Epístolas.

Em segundo lugar, fluindo dos ensinamentos dos apóstolos, temos a comunhão
dos apóstolos. Esta, como sabemos, é a comunhão para a qual todos os cristãos são
chamados – a comunhão do Filho de Deus, Jesus Cristo o nosso Senhor. O Filho de Deus é
o centro e o objeto desta comunhão.

Em terceiro lugar, a comunhão dos apóstolos leva ao partir do pão, a expressão
formal e mais elevada da comunhão, a qual traz à lembrança a morte de Cristo pela qual os
filhos de Deus foram inteiramente separados do mundo e reunidos em um.

Finalmente, a oração, pela qual, como santos, somos guardados na atitude da
dependência de Deus, reconhecendo que a Sua graça está disponível para nós, e que
constantemente temos de vir corajosamente ao trono da graça para que possamos receber
misericórdia e encontrarmos graça para nos ajudar no tempo da necessidade.

Infelizmente, a provisão de Deus foi quase inteiramente negligenciada, e esta é a
razão da condição dividida e espalhada do povo de Deus. A cristandade deixou de lado
basicamente a doutrina dos apóstolos pela sua própria tradição; formou “comunhões” em
volta de homens dotados, ou determinadas visões, ao em vês do Filho de Deus; perverteu o
partir do pão de uma ceia de lembrança para uma forma cerimonial da graça; e transformou
a oração em mera formalidade. Contudo, nos primeiros dias de Atos, os crentes
“continuamente perseveravam” na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e
na oração; e enquanto continuaram assim permaneceram juntos em uma unidade visível.

Vimos assim no segundo capítulo de Atos como o próprio Senhor edifica a Sua
Igreja com pedras vivas sobre a Rocha. Mas tudo isso se realiza na terra; não há até agora
nenhuma insinuação do caráter celestial da assembléia ou do seu destino glorioso nos
desígnios de Deus. Não há uma palavra por enquanto da união do corpo na terra com o
Cabeça no Céu. A “união” é ainda um segredo a ser aberto no devido tempo, mas o que é
manifesto nesses primeiros capítulos de Atos é a “unidade”. Não necessariamente uma
unidade material, mas uma unidade moral, marcada por alegria e simplicidade de coração.
Ali permaneceu um evento a ser cumprido antes que o pleno caráter celestial e a chamada
da Igreja pudessem ser revelados. O cálice da culpa de Israel deve ser cheio até borda. A
nação já tinha rejeitado e crucificado o seu Messias; mas agora o Espírito Santo tinha
vindo, com a última oferta à nação culpada. Eles resistirão ao Espírito como já tinham
rejeitado o Messias?

Quando o Senhor ascendeu, como registrado em Atos 1, os discípulos “olharam
firmemente em direção ao céu enquanto Ele subiu”. Imediatamente dois anjos se puseram
diante deles, e disseram: “Por que estais olhando para o céu? Esse mesmo Jesus, que é
recebido em cima no céu, há de vir de maneira semelhante”. Os anjos voltaram o olhar
deles fixos no céu, para o Cristo que tinha ido, em direção a terra para a qual Ele virá. A
princípio poderíamos nos admirar disso. Era de fato uma coisa correta olhar para o céu
onde Cristo está? Sim, na ocasião devida será correto, mas o momento ainda não tinha
chegado para levantar os olhos. E quando ouvimos Pedro pregando à nação, podemos
entender por que os pensamentos dos discípulos deveriam permanecer durante algum
tempo na terra. Pois, diz Pedro à nação culpada: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos,
para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério,
da presença do Senhor, e ele envie o Cristo, que já dantes vos foi pregado” (At 3: 19, 20).
Esta foi a última mensagem na graça para a nação culpada, proclamada pelo Espírito Santo
vinda do Cristo ressurreto. Se eles se arrependerem, Jesus voltará à terra. Como resultado
recusaram completamente este testemunho do Espírito Santo. Eles tinham sido os traidores
e os assassinos do próprio Messias deles. O Espírito Santo (não tendo tomado um corpo)
não puderam assassinar, mas podem assassinar o homem que é cheio do Espírito Santo, e
isso eles fazem apedrejando a testemunha, Estevão.

A rejeição pela nação desta oferta final da graça ocasiona uma modificação total
na dispensação. Depois disso tudo está por conta deles, e o centro da ocupação de Deus
passa da terra para o céu. Em harmonia com esta modificação Estevão, que está cheio do
Espírito Santo, olha firmemente para o céu, e nenhum anjo se coloca para perguntar por que
olhava para cima. O tempo de Deus chegou para que o Seu povo olhe em direção oposta a
terra para o céu. E ele não apenas levanta os olhos, mas o seu espírito é recebido em cima.
O primeiro da longa lista de mártires é recebido no céu. Agora o povo de Deus não pertence
mais a terra na qual Cristo foi rejeitado, mas ao céu onde Cristo foi recebido. O céu é a casa
deles, e Cristo está lá para recebê-los naquela casa. Se o mundo não terá Cristo, ele não é o
lugar para o Seu povo, e se o céu recebeu a Cristo, então um novo lugar é aberto para o Seu
povo, e naquele novo lugar Ele os recebe.

Atos 7 é um grande ponto decisivo nos caminhos de Deus. Desde o momento em
que o testemunho de Estevão é rejeitado, as grandes características da dispensação vêm
proeminentemente à tona. Na cena final deste capítulo, todas as pessoas e todas as coisas
são reveladas segundo o caráter verdadeiro da dispensação cristã. A nação culpada de Israel
é vista em sua rejeição absoluta a Cristo e sua inveterada resistência ao Espírito Santo. O
mundo é visto em seu verdadeiro caráter como o rejeitador de Cristo e o perseguidor dos
Seus santos. O céu é visto violentamente aberto para revelar Cristo na glória, para receber
aos santos. Cristo é visto como o Homem na glória que apóia os Seus santos tentados na
terra e os recebe no Céu quando adormecem. O Espírito Santo é visto como uma Pessoa
Divina na terra, enchendo um homem na terra e levando-o a levantar os olhos firmemente
para Cristo no céu. E por fim, este santo cheio do Espírito é apresentado como um homem
na terra que retira todos os seus recursos do Homem na glória, e fazendo assim se torna
mudado à Sua semelhança de glória em glória, de tal maneira que, como o seu Mestre, ele
ora pelos seus assassinos e entrega o seu espírito ao Senhor. Para que assim como um
homem na terra é apoiado pelo Homem na glória, o Homem na glória seja representado por
um homem na terra. Tendo combatido o bom combate e terminado a sua carreira, o alegre
espírito de Estevão parte para estar com Cristo, enquanto seu pobre e quebrado corpo
adormece para esperar uma ressurreição gloriosa.

Desde depois do apedrejamento de Estevão, o mundo tem sido verdadeiro em seu
caráter. Ele rejeitou a Cristo dede então e perseguiu aos santos desde então, fez assim desde
então em diferentes medidas e graus. Ele pode ser religioso – ele o era então, e o é agora –
mas a religião não muda o seu caráter. Na realidade, quanto maior for a religião do mundo,
mais intenso é o seu ódio e mais implacável a sua perseguição aos santos. Deixe a história
testemunhar a sua hostilidade invariável a Cristo e ao Seu povo. O céu, também, não
mudou sua atitude para com o povo de Deus. Esteve aberto então e ainda está aberto. Por
aquela porta aberta ainda podemos contemplar a glória onde Jesus está, e o amor de Cristo
ainda jorrando sobre os Seus santos. Então realmente com Cristo não há nenhuma
mudança. Podemos levantar os olhos e dizer, “Tu permaneces” e “Tu és o mesmo”. Toda a
graça, o poder e a sabedoria do Homem na glória são ainda tão disponíveis para o sustento
de Seu povo como quando Estevão foi tão abençoadamente sustentado em seu martírio.
Com o Espírito Santo, também, não há nenhuma mudança. Ele veio de Cristo na glória para
nos conduzir a Cristo na glória. E essa ainda é a forma Dele agir. Mas quanto os crentes
protelaram! Quão pouco nos mantemos autênticos ao nosso caráter como santos. Quanto
temos afligido o Espírito, e assim, ao em vês de olharmos firmemente para o céu, olhamos
para a terra. Nos tornamos terrestres, se não mundanos. Conseqüentemente, o suporte do
Senhor tem sido pouco recebido e o poder do Espírito muito pouco manifestado, por isso é
que temos sido representantes muito pobres do Homem na glória.

Mas apesar de todo o fracasso, o quadro em Atos 7 permanece em toda a sua
excelente beleza para reconduzir o nosso coração ao verdadeiro caráter da dispensação.
Mas ele faz mais; prepara o caminho do ministério de Paulo com a sua rica revelação de
que a Igreja é um corpo com Cristo, o Cabeça ressuscitado, no céu.

Na história de Estevão seguramente aprendemos que os discípulos do Cristo
ressuscitado pertencem ao céu. Mas na história da conversão de Paulo em Atos 9,
aprendemos, não só que os santos pertencem ao céu, mas que os santos na terra estão
unidos a Cristo no céu. Quando Saulo viajou em seu caminho para Damasco “respirando
ameaça e matança contra os discípulos do Senhor”, foi lançado à terra por uma luz do céu e
ouviu a voz de Cristo na glória que disse a ele: “Saulo, Saulo, por que persegues a Mim?”
A voz não disse: “aos Meus”, nem mesmo “a nós”, mas “a Mim.” “Aos Meus” conteria
uma companhia de pessoas que pertencem a Cristo, isso de fato é verdade, mas não toda a
verdade. “A nós” conteria uma companhia de pessoas associadas a Cristo, o que também é
verdade, mas não a verdade completa. “A Mim” implica uma companhia de pessoas em
unidade com Cristo, e de forma tão íntima que tocá-los é também tocar a Cristo.

O martírio de Estevão e a perseguição continuam a apresentar o mundo em seu
verdadeiro caráter como um perseguidor dos santos, mas na conversão de Saulo
aprendemos a nova verdade de que na perseguição aos santos o mundo está perseguindo a
Cristo. A Igreja é uma com Cristo no céu, e Ele é perseguido em Seus membros. Isso, como
foi dito, é ‘a mais forte expressão de nossa união com Ele – que Ele considera o membro
mais fraco de Seu corpo como parte Dele mesmo’. Em Atos 2 e 4 os santos foram unidos
“em um coração” e “uma alma” apresentando uma bela expressão de unidade, mas aqui é
revelada a verdade mais profunda da união íntima deles com Cristo, o Cabeça deles
exaltado no céu, e de uns com os outros como membros do Seu corpo na terra.

Israel, tendo crucificado o Messias, rejeitado a Cristo na glória, e resistido ao
Espírito Santo na terra, é inteiramente deixada de lado por enquanto, enquanto a Igreja,
formada na terra mas destinada à glória, se torna a testemunha de Deus no mundo. Paulo foi
o vaso escolhido para revelar através do ensinamento divino em suas epístolas as grandes
verdades acerca de Cristo e a Igreja.

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